"A imaginação é mais importante que o conhecimento."

Albert Einstein



domingo, 21 de junho de 2009

Eu, Letra e Música

Música brasileira é encantadora. Sei que não postei muitas, o que considero um erro meu, confesso, mas estou aqui para isso. Não entendo porque hoje em dia a maior parte das músicas que escutamos sejam estrangeiras, claro que não são todos que são assim, mas a maior parte das músicas de uma rádio bem conceituada são estrangeiras e se é bem conceituada quer dizer que bastante gente ouve.

Confesso novamente, eu só fui gostar realmente quando comecei a me misturar na música. Me apaixonei. Aliás, sou apaixonada por flauta, não posso ouvir o som dela que enlouqueço, muitas brasileiras as têm. Além do som ser ótimo, as letras são lindas, é impressionante a intensidade delas, fico admirada com a paixão e o amor que demonstram. Claro, vindo de estilo musical, digamos, "meloso".

Hoje vou colocar aqui uma música do Chico Buarque. Ele, que na minha opinião, é um dos melhores compositores brasileiros. A música vai ser "Geni e o Zepelim" que conta a história de uma garota que sofre preconceito da cidade inteira a ponto de ser apedrejada por todos e que um dia por obra do destino tem a decisão de deixar a cidade e os habitantes continuarem existindo ou não.

Chico Buarque- Geni e o Zepilim


Geni e o Zepilim

De tudo que é nego torto
Do mangue e do cais do porto
Ela já foi namorada
O seu corpo é dos errantes
Dos cegos, dos retirantes

É de quem não tem mais nada
Dá-se assim desde menina
Na garagem, na cantina
Atrás do tanque, no mato
É a rainha dos detentos
Das loucas, dos lazarentos
Dos moleques do internato
E também vai amiúde
Com os velhinhos sem saúde
E as viúvas sem porvir
Ela é um poço de bondade
E é por isso que a cidade
Vive sempre a repetir
Joga pedra na Geni
Joga pedra na Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni

Um dia surgiu, brilhante
Entre as nuvens, flutuante
Um enorme zepelim
Pairou sobre os edifícios
Abriu dois mil orifícios
Com dois mil canhões assim
A cidade apavorada
Se quedou paralisada
Pronta pra virar geleia
Mas do zepelim gigante
Desceu o seu comandante
Dizendo - Mudei de ideia
- Quando vi nesta cidade
- Tanto horror e iniquidade
- Resolvi tudo explodir
- Mas posso evitar o drama
- Se aquela formosa dama
- Esta noite me servir

Essa dama era Geni
Mas não pode ser Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni

Mas de fato, logo ela
Tão coitada e tão singela
Cativara o forasteiro
O guerreiro tão vistoso
Tão temido e poderoso
Era dela, prisioneiro
Acontece que a donzela
- e isso era segredo dela
Também tinha seus caprichos
E a deitar com homem tão nobre
Tão cheirando a brilho e a cobre
Preferia amar com os bichos
Ao ouvir tal heresia
A cidade em romaria
Foi beijar a sua mão
O prefeito de joelhos
O bispo de olhos vermelhos
E o banqueiro com um milhão
Vai com ele, vai Geni
Vai com ele, vai Geni
Você pode nos salvar
Você vai nos redimir
Você dá pra qualquer um
Bendita Geni

Foram tantos os pedidos
Tão sinceros, tão sentidos
Que ela dominou seu asco
Nessa noite lancinante
Entregou-se a tal amante
Como quem dá-se ao carrasco
Ele fez tanta sujeira
Lambuzou-se a noite inteira
Até ficar saciado
E nem bem amanhecia
Partiu numa nuvem fria
Com seu zepelim prateado
Num suspiro aliviado
Ela se virou de lado
E tentou até sorrir
Mas logo raiou o dia
E a cidade em cantoria
Não deixou ela dormir
Joga pedra na Geni
Joga bosta na Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni

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Se você fosse ela, fugiria com o capitão e deixava tudo explodir ou faria o que ela fez?
Eu em dúvida.


Fonte: Site Vagalume.

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