Ao vento

Estando aqui, agora, queria estar em outro lugar. Me transporto além, vou até uma montanha. Seu topo coberto por uma densa neblina me separava do restante. Ali me sentia confortável, serena, segura. O sol despontava pouco a pouco no horizonte, atravessando e espantando todo o esbranquiçado da visão. Podia ver o tapete de nuvens que se estendia a minha frente me convidando a andar sobre elas. Que bela tentação, pensei.

Uma leve brisa soprou em minha direção. Fechei os olhos para recebê-la melhor. Ouvi seus sorrisos cantarolar nos meus ouvidos ao brincar com meus cabelos soltos. Quase podia tocar sua invejável liberdade, como queria ir com ela, como! Senti um arrepio subir pela espinha. Finalmente percebi o frio que me acolhia. Reparei em minha face, meu nariz gelado e minhas bochechas, provavelmente, bem rosadas. Ri e percebi uma leve fumaça saída de mim, realmente estava frio. Como eu gostava daquilo, de tudo aquilo.

Olhando o sol por inteiro agora, suspirei e uma pontada de tristeza me bateu no peito. Sabia, a hora de ir embora havia chegado, tinha que voltar ao lugar de onde vim. E lentamente olhei para as nuvens fofas, para o sol radiante, e me despedi com a promessa de voltar. Fechei os olhos e novamente estava na terra, mas precisamente numa reunião qualquer. Levantando da mesa me perguntaram o que havia acontecido. Expliquei-lhes: Tenho uma promessa no Himalaia, não me sigam.

Desde o ocorrido, nunca mais me viram. Uns dizem que realmente fui ao Himalaia e virei monge (se é que é possível uma mulher virar monge), outros falam que simplesmente me mudei e hoje sou uma pessoa de negócios. Pois digo que reencontrei algo perdido e meu querer foi atendido. Vivo sem fronteiras, sorrindo nos ouvidos ao brincar com cabelos soltos. Vou assim, viajando além. Minha liberdade é invejada!