Ele, Ela

Em meio ao quentinho da cama naquele inverno congelante ela decidiu dizer o que a angustiava desde cedo. Uma ideia surgida aparentemente do nada, vindo talvez com o clima triste ou só mais um baque da realidade.

- Eu sei que na verdade não temos nada nessa vida, que estamos aqui de passagem, com tempo contado. Mas pensar em te perder desespera. Não sei como ficaria se fosse embora. Queria que as pessoas que eu gostasse morressem bem velhinhas, com no mínimo 80 anos. Que eu morresse bem velhinha também.

Enquanto ela fechava os olhos de sono, pensava que bem podia ser verdade aquele pensamento, podia até ter lei. Mas que daí a vida não seria tão possível quanto é, pois não haveria lugar no mundo para tanta gente. Deus sabe o que faz. Já ele continuou apenas a olhando.

Ela, sentindo o carinho nos cabelos, abriu os olhos novamente e se sentiu como criança. Pensou em espantar a fragilidade e as mãos que acariciam, mas ser uma criança frágil naquele momento era o estar mais verdadeiro dela. Realmente era e sempre iria ser uma criança a procura no mundo. 

Então, se aconchegou mais um cadinho. Sentindo o quente do corpo e os deslizar dos dedos, adormeceu. Lentamente foi se entregando ao sonhos de uma menina para acordar no dia seguinte e enfrentar o mundo como adulta.