"A imaginação é mais importante que o conhecimento."

Albert Einstein



domingo, 21 de junho de 2009

Novos Horizontes



Aflição. Não, não era isso que sentia, estava serena. Mesmo sentindo o estômago borbulhar não estava agoniada, apenas com um leve inquietamento. Euforia, talvez. Sentia mudanças próximas e isso me deixava animada de um jeito estranho. Podia sentir que alguma coisa iria mudar bruscamente, não sabia exatamente o que, só sabia que era bom, não tinha explicação, somente sentia. Sentimentos não têm muita explicação, talvez seja isso que assuste as pessoas. Eu sabia disso e não era diferente dos outros.

Primeira viagem a sós, totalmente só, sem absolutamente ninguém conhecido, apenas eu e Deus. Uma viagem de apenas seis horas que pra outros não seria nada, mas pra mim significaria muito. Era a liberdade dada de bom grado que muitas jovens queriam. Sabia que julgariam por isso, mas não ligava, o que os outros diriam não importava, queria apenas aproveitar, sabia que poderia não ser nada demais, mas naquele momento era, e queria agarra-lo da melhor forma possível, saborear cada coisa nova.

Despedi-me da minha mãe com ordens de ligar assim que chegasse ao destino. Entrei no ónibus e sentei na poltrona que meu bilhete indicava. Janela, queria olhar atentamente cada paisagem que passaria rápido pelo vidro. Esperei, mas ninguém sentou ao meu lado, alívio, não é por mal, mas é desconfortável sentar ao lado de uma pessoa totalmente desconhecida, ainda mais para alguém que está viajando pela primeira vez sozinha.

Foi uma viagem boa, tirando o fato de uma sem noção que sentou do outro lado do corredor e, com fone no ouvido, começou a cantar um gospel desconhecido. Fuzilei-a com os olhos virando-os em seguida, creio que a garota entendeu, pois ela começou a cantar baixinho, quase inaudível. Invejei-a por ter algo para escutar, lembrei do meu MP4 comprado à vista no bairro da liberdade, parou de funcionar misteriosamente alguns dias antes, Japas miseráveis, 60 reais perdidos, no caso 65, já que vinha com capinha de proteção da qual não usei, tsc, lembrar de não comprar coisas piratas. Forcei a minha mente à lembrar de algumas músicas, mas nenhuma delas chegava até o final. Afundei-me nas memórias.

Doce, agradável. Que cheiro é esse? Com os olhos ainda fechados, estando entre o sono e a consciência, procurei em minha memória o que aquilo me lembrava. O aroma adocicado vinha com o vento que entrava pela janela me ninando. Grama, fresca. Abri os olhos num ímpeto e vi rapidamente os cortadores de grama trabalhando com violência os tufos. Acertei. Me ajeitei na poltrona, não tinha percebido que peguei no sono. Fiquei assustada quando parei para pensar na rapidez que senti o cheiro, identifique-o e abri instintivamente os olhos para certificar mesmo estando dormindo. Não tinha uma tal pesquisa que dizia que os sentidos "adormecem" junto com a gente? Que estranho...

Não deveria me assustar, sabia que não era muito normal. Me considerava estranha, e ainda sou. Gostava e gosto disso, contradizer as pessoas, gosto de ser diferente. Seguir os pensamentos dos outros é chato, é como se você tivesse cérebro e o deixasse de enfeite, o que realmente acontece com muita gente. Claro que considero os pensamentos dos outros, mas os uso para formular os meus, não fazê-los meus. É diferente, muitos não entendem e julgam por isso como se eles fossem os certos e pronto e acabou, ahhh, essa atitude me enoja, mas fazer o que? Só posso lamentar por essa gente, mal sabem o que perdem por se fazerem poderosos, tantas coisas se escondem na humildade...

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